O líquor ou líquido
cérebro-espinhal, é uma substância aquosa e incolor que ocupa as cavidades
ventriculares e o espaço subaracnóideo. A principal função do líquor é de
proteção mecânica do sistema nervoso central, formando um verdadeiro coxim líquido
entre este e os ossos paralelos. Em virtude do princípio de Pascal qualquer
pressão ou choque que se exerça em um ponto deste coxim líquido,
distribuir-se-á igualmente a todos os pontos. Desta maneira, o líquor constitui
um eficiente mecanismo amortecedor dos choques que frequentemente atingem o
sistema nervoso central. Por outro lado, em virtude da disposição do espaço
subaracnóideo, que envolve todo o sistema nervoso central, este fica totalmente
submerso em líquido e, de acordo com o princípio de Arquimedes, o torna muito
mais leve, o que reduz o risco de traumatismos do encéfalo resultantes do
contato com os ossos do crânio, assim, um encéfalo que pese 1.500g no ar pesará
menos de 50g em seu envoltório liquórico.
Características citológicas e físico-químicas do líquor
Pode-se medir a pressão do líquor
ou colher uma certa quantidade para estudo de suas características citológicas
e físico-químicas, através de punções lombares, suboccipitais ou ventriculares.
Tais estudos dão importantes informações sobre a fisiopatologia do sistema
nervoso central e seus envoltórios, permitindo o diagnóstico, às vezes bastante
preciso, de muitas afecções que acometem o sistema nervoso central, como
hemorragias, infecções etc. É através do estudo do líquor que é feito
diagnóstico para diversos tipos de meningites. O líquor de um adulto é bastante
diferente do recém-nascido porém, as propriedades físico-químicas do líquor
normal também variam conforme o local de obtenção da amostra estudada. O líquor
normal do adulto é límpido e incolor, apresenta de zero a quatro leucócitos por
mm³ e uma pressão de 5 a 20cm de água, obtida na região lombar com paciente em
decúbito lateral. Embora o líquor tenha mais cloretos que o sangue, a
quantidade de proteínas é muito menor do que a existente no plasma. O volume
total do líquor é de 100 a 150cm³ e se renova completamente a cada oito horas.
Existem tabelas muito minuciosas com as características do líquor normal e suas
variações patológicas, permitindo a caracterização das diversas síndromes
liquóricas.
Formação, absorção e circulação do líquor
Por muito tempo sabe-se que o
líquor é formado pelos plexos corióides. Entretanto, estudos mais modernos
mostram que uma pequena parte se forma a partir do epêndima das paredes ventriculares
e dos vasos da leptomeninge. Por um período grande acreditou-se que o líquor
resultaria apenas de um processo de filtração do plasma pelos plexos corióides.
Entretanto, sabe-se hoje que ele é ativamente secretado pelo epitélio
ependimário. Principalmente dos plexos corióides, e sua composição é determinada
por mecanismos de transporte específicos. Sua formação envolve certa quantidade
de água necessária à manutenção do equilíbrio osmótico e transporte ativo de NA⁺Cl⁻,
através das células ependimárias dos plexos corióides.
Os ventrículos laterais contribuem
com o maior contingente liquórico, que passa ao III ventrículo pelos forames
interventriculares e daí ao IV ventrículo através do aqueduto cerebral. Através
das aberturas medianas e laterais do IV ventrículo, o líquor formado no
interior dos ventrículos ganha o espaço subaracnóideo, sendo reabsorvido no
sangue principalmente através das granulações aracnóideas que se projetam no
interior dos seios da dura-máter. Como essas granulações predominam no seio
sagital superior, a circulação do líquor no espaço subaracnóideo se faz de baixo
para cima, devendo, pois, atravessar o espaço entre a incisura da tenda e o
mesencéfalo. No espaço subaracnóideo da medula, o líquor desce em direção caudal,
mas apenas uma parte volta, pois há reabsorçâo liquórica nas pequenas
granulações aracnóideas existentes nos prolongamentos da dura-máter que acompanham
as raízes dos nervos espinhais.
A circulação do líquor é
extremamente lenta, e até hoje são discutidos os fatores que determinam este
fato. Sem dúvida, a produção do líquor em uma extremidade e a sua absorção em
outra já são suficientes para causar sua movimentação. Um outro fator é a pulsação
das artérias intracranianas que, a cada sístole, aumenta a pressão liquóriea, possivelmente
contribuindo para empurrar o líquor através das granulações aracnóideas.
Esquema da circulação do líquor:
Considerações anatomoclínicas sobre o líquor
O conhecimento do espaço e das
cavidades cerebrais que contem líquor, é de grande importância para a compreensão
de uma série de condições patológicas.
Hidrocefalia
Hidrocefalias são processos patológicos
que interferem na produção, circulação e absorção do líquor. Estas são caracterizadas
pelo aumento da quantidade e da pressão do líquor, levando a uma dilatação dos
ventrículos e compressão do tecido nervoso de encontro ao estojo ósseo, com consequências
muito graves e irreversíveis. Às vezes a hidrocefalia ocorre durante a vida fetal,
geralmente em decorrência de anomalias congênitas do sistema ventricular.
Nesses casos, como os ossos do crânio ainda não estão soldados, há grande dilatação
da cabeça da criança, o que frequentemente dificulta o parto.
Existem dois tipos de
hidrocefalias: comunicantes e não-comunicantes. As hidrocefalias comunicantes
resultam de um aumento na produção ou deficiência na absorção do líquor, devidos
a processos patológicos dos plexo corióides ou dos seios da dura-máter e granulações
aracnóideas. As hidrocefalias não-comunicantes são muito mais frequentes e
resultam de obstruções no trajeto do líquor, o que pode ocorrer nos seguintes
locais:
a) forame interventricular,
provocando dilatação do ventrículo lateral correspondente;
b) aqueduto cerebral, provocando
dilatação do III ventrículo e dos ventrículos laterais;
c) aberturas mediana e laterais do
IV ventrículo, provocando dilatação de todo o sistema ventricular;
d) incisura da tenda, impedindo a
passagem do líquor do compartimento infratentorial para o supratentorial,
provocando também dilatação de todo o sistema ventricular.
Existem vários procedimentos
cirúrgicos visando diminuir a pressão liquórica nas hidrocefalias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MACHADO, A. B. M.. Meninges e
líquor. Neuroanatomia Funcional. 2.
ed. São Paulo: Atheneu, 1998. p. 82-84.

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